top of page

Matriz de cabeça, rito à Jacoca

Conde, Paraíba - 2022

 

 

‘Matriz de cabeça, rito à Jacoca’ foi realizada entre a mata e a praia da Arapuca, localizada no município do Conde, no estado da Paraíba/Brasil, durante vivência artística na  Arapuca Centro de Cultura e Arte. A imersão de três dias foi fruto do exercício Ka’a proposto pelo curador Allan Yzumizawa como experiência de uma exposição para seres não humanos. Minha proposta esteve atenta às relações dos binômios presenças/ausências das relações históricas que atravessam a região paraibana e minha ancestralidade enquanto pessoa racializada.

Os ‘não humanos’ na perspectiva da minha ação, alinham-se aos encantamentos (in)visíveis, suscitados pela terra e o meu corpo. Produzi impressões com minha cabeça sobre o solo em ação performativa orientada para vídeo, ativada por minha interação com a terra enquanto suporte e o meu corpo na condição matricial. O mote do trabalho/ritual está em comunicar a partir dos borrões advindos do Ori (cabeça), presenças/ausências que escapam à perspectiva fatual, neste sentido, durante a execução do trabalho meu corpo localizou-se no entre lugar das minhas experiências subjetivas ancestrais. O rito à Jacoca saúda a terra matriz, as manifestações naturais e/ou incorpóreas que se perpetuam sobrepostas ao tempo, como rituais de vida e morte.

A região onde a ação aconteceu possui raízes históricas na aldeia de índios tabajaras, antes da administração no século XVI dos missionários franciscanos portugueses a região chamava-se Jacoca.  O nome de origem Tupi-guarani deriva de tchea koka, vocábulo indígena que quer dizer “abraça me”, este significado está arraigado à lenda de que no lugar, uma índia tapuia fora surpreendida quando dizia esta palavra a um potiguar.  A fusão entre os Potiguaras e Tabajaras aconteceu durante a ocupação da Capitania da Paraíba pelos holandeses, durante essa movimentação fundaram a sede do município, originada através da junção de Jacoca com a aldeia denominada Pindaúna, dos índios Potiguaras, este povoado misto recebeu posteriormente outros nomes e significados orquestrados pelos invasores.

A terra nesta realidade, esteve presente enquanto suporte do acontecimento. Em sua materialidade podemos observar o tempo pisado, úmido, áspero e vivo. No solo paraibano estão meus antepassados narrando histórias de resistência, onde eu, em ação ritualística procuro reconectar-me com os encantamentos em trânsito, como um contínuo retorno do corpo à natureza em fluxo atemporal. Os artefatos da performance resultaram em um vídeo e registros fotográficos das marcas/vestígios, as impressões foram criadas com pigmento preto extraído do carvão e impressas em duas encruzilhadas que conduz ao mar e à mata.

Artistas Participantes:

Serge Hout (FR- PB)

Lucas Alves (PE- PB)

Paulo Pontes (PE - PB)

Cris Peres (PB)

Curadoria: Allan Yzumizawa (SP)

Junho/2022

bottom of page