Fragile
Exposição individual realizada no Hotel Globo- João Pessoa/PB.
03/02 à 06/03/2023
F R A G I L E
Escritos sobre a reconstrução
Por que sou levada a reconstruir?
Porque
o ruído da liberdade
me salva da complacência que me amedronta.
Porque não tenho escolha.
Porque devo manter a frequência progressiva
do meu organismo vivo,
comovido
e ávido pela demolição
das estruturas opressoras.
Com meus pés abrigados na terra,
compenso o que o mundo real não me dá,
coloco nele uma alça
para poder segurá-lo.
Estou viva
porque derrubo diariamente muros
que encobrem minha existência,
porque a realidade submersa nos escombros não aplaca
meus apetites e minha fome.
Refaço com meu corpo de cor,
fêmeo
e atento
o que silenciam quando falo,
para reconstruir as histórias mal contadas sobre mim,
sobre você.
Desarticulo vazios concretos
dos cativos de ontem,
para me descobrir,
preservar-me,
construir-me,
alcançar autonomia.
Encarando a ruína, despeço-me dos mitos
de que sou uma profetisa delirante
ou uma pobre alma sofredora.
Escreverei com minha presença,
com meus objetos sólidos,
fraturados,
ressignificados
e ocos
sobre o não dito,
sem me importar com o suspiro de ultraje do censor e da audiência.
Finalmente,
continuarei a
reconstrução
porque tenho medo de ser desfeita novamente,
mas tenho um medo maior,
o de permanecer
em silêncio.
Cris Peres Adaptação do texto “Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo”, Glória Anzaldúa, 1981.