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Área de risco
2021
Galeria cultural Energisa - João Pessoa/PB
Cris Peres ocupa o espaço com peças entre monotipias, frottages, objetos escultóricos e jogo bidimensional da impressão desenvolvidas em sua trajetória artística, capaz de ser identificada pela vasta epopeia visual do dilema do mundo contemporâneo entre concreto e plástico. Área de risco título da exposição, se expressa como um convite alerta, um convite atenção. A artista nos coloca em frente ao buraco negro escultural do nosso mundo de concreto e plástico. A ausência, a presença, o vazio e o preenchido, em suas dobras e rugas, possuem a legitimidade do caráter de ser do objeto, que já é parte expressiva de nós Isso é o tom existencial do trabalho da artista. Nossas bolhas, suportes e esconderijos sociais são elementos impressos entre o concreto e o plástico. Fenômenos de nossa natureza inventada, esses elementos são também extensões de nossos corpos, de nosso cotidiano e protagonizam nossas narrativas urbanas. Área de risco é a jornada da nossa atualidade em um futuro fóssil tangível, um futuro presente. Para acolher essa perspectiva, não basta lançar a nossa visão às obras, no sentido clássico do termo, mas mergulhar numa antevisão, porque não se trata apenas do contato visual com a exposição destas coisas por si mesmas talheres, copos, marcas e vestígios objetuais. Trata-se da integração com artifícios visuais capaz de nos conduzir às pós imagens. Aqui encontramos a condição do "vir a ser", do " possível","do potencial" do amanhã e do risco. Entre o paradoxo e a distopia, a exposição traz a marca do efêmero na ruína, que é, por outro lado, aquilo que permanece e comunica. Assim, a condição urbana, projetada na expressão do mundo, é parte do que se vai e ao mesmo tempo do que fica do resíduo objetual. O vir a ser enquanto possibilidade existencial no mundo concreto se insere na condenação humana ao fim e na teimosia de se externar em coisas plásticas. Seres da decomposição, nós estamos gravando a história concreta com objetos de plástico que, sem o poder fácil do de compor integram o compor crescente do espaço. Em um cenário transparente de cópula constante entre o laborar concreto e o devir plástico, os trabalhos da artista acabam por se elencar também à ironia filosófica de que, para falarmos em possibilidade das coisas e da própria existência, nos referimos à concretude do real e à plasticidade do acontecimento vindouro. O que está por vir é a coleção épica, já tornada passada ao ser referida, de “ gravados. Não há saída. E o caminho é sempre o da volta. O futuro presente é o passado do amanhã. O destino é a odisseia do retorno. Área de risco é a alegoria do nosso lugar e invoca as manifestações de nossa caverna fóssil urbana humana. As obras se instauram na gravidade cósmica, que permite o concreto sustentar a natureza plástica na composição e conversão do tempo em itens, suportes e utensílios. Enfim, a história do futuro dessa epopeia visual gravada a gravura objeto. E esse algo, que está por vir é o risco, que em algum momento já abraçamos.
Ana Monique Moura, Prof.UFPB
Dr. em filosofia,Leipzig Alemanha.
Texto curatorial: Monique Moura
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